Vem aí a escola!
Pois é. O verão já começa a dar ares de quem pretende ir embora um dia destes, e mesmo com dias (ainda) quentes já se nota como estão pequenos, perdendo desde o dia 21 de junho, um minuto de manhã e outro à noite.
O ano letivo vai recomeçar para centenas de milhares de crianças e adolescentes. E professores e auxiliares, entre outros. Neste ano «louco», é difícil garantir que as aulas e a frequência da escola serão como em todos os outros anos. «Rezo aos santinhos» para que possa haver aulas presenciais e recreios dentro do que pode ser o mais próximo da realidade. Todavia, o coronavírus e o governo decidirão se isso se pode concretizar.
Independentemente do tipo de «escolaridade» que nos espera (provavelmente um misto do presencial e online), há algumas questões sobre as quais creio ser útil refletir:
- O que se pretende com a escolarização: educação ou ensino/aprendizagem? Vou pelo segundo, que permite desenvolvimento bidirecional, curiosidade, constantes indagações, perguntas, interesse, diálogo, em que o professor também aprende e os alunos também ensinam, promovendo-se a autonomia, a vontade de aprender e de se aperfeiçoar, a investigação e curiosidade científicas e se ganha organização e método. Educar, no sentido estrito, será quase como «abrir a cabeça das crianças encher de entulho e fechar novamente», o que é mau. Para quem leciona, é muito mais agradável e, principalmente, um enorme exercício de variedade e liberdade, interiorizar o ensino/aprendizagem.
- A arte… ah, sim, a arte. A área que deveria ser a maior, sendo a partir dela que todas as outras disciplinas mais «técnicas» e «académicas» seriam ensinadas, continua a ser (salvo raríssimas exceções) o parente pobre dos horários, muitas vezes, até, opcional. Acresce que as aulas das outras disciplinas não são dadas com arte, com uma forte componente estética e tudo relatado «como se fosse uma história», o que seria possível para todas as matérias.
- Quem fala em estética fala em ética. Onde anda ela, no quotidiano das crianças, no quotidiano das escolas? Porventura até mais nas escolas privadas, o «teorema» de São Tomás («faz o que ele diz e não o que ele faz») aplica-se com demasiada frequência. O humanismo, os valores essenciais da amizade, cooperação, empatia, abnegação, frugalidade e consciência social, entre muitos outros, também não é uma das matérias transversais… e não é às aulas de religião (que nem deveriam existir) que compete desenvolver as pessoas e formas os cidadãos.
- A educação física, o desporto, a relação do corpo com o ambiente, a defesa do ambiente e do ecossistema também continuam menorizados, quanto muito alvos de umas ações pontuais geralmente histriónicas, mas que não passam disso mesmo: foguetes avulsos.
Os caracteres aproximam-se do limite. Um dia voltaremos ao tema. Que as crianças tenham aulas presenciais e, repito, recreios bem vividos e estimulantes, que os professores, que apesar de tudo são «os donos da sala de aula» não se escondam mais atrás dos ditames «da 5 de outubro» e tornem cada aula um espaço onde apetece estar, aprender, crescer e… ter muitos e bons momentos de felicidade.
Que as crianças tenham aulas presenciais e, repito, recreios bem vividos e estimulantes, que os professores, que apesar de tudo são «os donos da sala de aula» não se escondam mais atrás dos ditames «da 5 de outubro» e tornem cada aula um espaço onde apetece estar, aprender, crescer e… ter muitos e bons momentos de felicidade.