
“E não se pode exterminá-las?”
O meu filho é melhor do que o teu. E mais lindo, perdão, liiiiiindo, mais querido, mais bem vestido, mais engraçado. Se tudo se resumisse a esta “orgia” narcisista, que, no fundo, significa “eu sou melhor mãe do que tu”, sendo grave não era tão mau como a realidade.
Todavia, quando expor o passeio da criança, o banho do bebé, as inúmeras fotografias dos rebentos vestidos, todos “mimosos”, e depois arrecadar muito dinheiro com a especificação das marcas de roupa que esses “queridos nenucos” usam, com catervas de publicidade associada, não sei porquê, mas faz-me lembrar a mais velha profissão do mundo, embora “by proxy”.
Se todas as profissões são honestas e dignas, incluindo essa, já a exploração de outros, designadamente de crianças, fica mal. Fica mal na sociedade e fica mal às pessoas que a promovem, estimulam e ainda ganham a vida com ela.
Há pessoas que se designam por socialites, influencers, famosas e outros epítetos que, entre o asco e o patético, as tornam profundamente ridículas. São importantes porque aparecem e aparecem porque são importantes. Influencers…, mas o que é que influenciam? Ah. As escolhas de produtos, materialistas, de consumo puro e duro, para que os papalvos e papalvas que se deixam tentar pensem que têm uma fantástica vida… como dá ideia que a das referidas influencers é.
São pessoas – na maioria mulheres, mas também um ou outro homem -, com uma tal capacidade de manipulação que conseguem que o seu divórcio litigioso, a doença do filho ou uma qualquer zaragata ou situação traumática se transforme num conto de fadas, a seguir, a ver, a devorar nas cenas dos vários capítulos (reforçados pelas revistas “cor-de-rosa”) e nos sítios da internet onde estas criaturas se albergam. Um balde de pipocas.
“Já viram as gracinhas da Gracinha?”, perguntam elas, e a seguir leva-se com: vestido, marca tal; camisola, marca tal; meias, marca tal; sapatos, marca tal; bola com que parece estar a brincar (foi só para a fotografia), marca tal e de tal loja… e por aí adiante.
Assim se pavoneiam pela sociedade, tornando-se VIPs. Contudo, quando se esmiúça o que fazem de útil para a referida sociedade… a resposta mais provável é nada. Coisa nenhuma. “Népias”. A não ser “influenciar” os outros e as outras a comprar coisas para os respetivos filhos vagamente se assemelharem aos filhos dessas personagens.
Digo já, sem qualquer dúvida: Odiava que os meus filhos fossem filhos dessas pessoas. Pela amostra que revelam do que é ser mãe ou pai, seria assustador para eles e não levaria a bom porto.
Quando chegará a altura de não termos medo de “chamar os bois (e as vacas) pelo nome”, e denunciarmos este embuste e esta exploração das crianças a favor do enriquecimento dos pais?
Podem sempre argumentar comigo: “Se não queres ver, não vejas!”. Claro que sim, e só tive de ver por motivos profissionais, para poder escrever este artigo, mas quando há crianças a serem exploradas, “minha alma ferve”. Sinto “grrrr!” nas veias.
A minha esperança é que, daqui a uns anos, essas mesmas crianças ponham processos às mães e pais pela utilização abusiva da imagem. Aí, as e os influencers vão sentir na pele o que é ser explorado.