Para muitos pais ou avós, a pilinha do bebé constitui uma fonte de problemas. Fique a saber mais sobre um tópico tantas vezes motivo de dúvidas e anseios.
Texto: Mário Cordeiro | Fonte: Guia Essencial Saúde do Bebé dos 0 aos 3 anos. Edição Especial O Nosso Bebé | Fotografia: Shutterstock

Que cuidados os pais devem ter com a pilinha do bebé?

A pilinha não deverá ser uma fonte de problemas. Trata-se de um órgão como qualquer outro, e deve ser sujeito às mesmas regras: cuidados de higiene, não agressão, manipulação cuidadosa, deixar evoluir com a idade, embora se deva manter o seu carácter íntimo e o pudor normal entre as pessoas.

O que se deve fazer quando não é possível puxar a pele da pilinha?

Se até aos três anos e meio não conseguir puxar a pele, provavelmente necessitará da ajuda de um cirurgião pediatra, que puxará (e deverá ser ele) com algum aparato, mas com eficácia, a pele da pilinha para trás, separando as duas camadas da pele. 

É normal aparecerem “bolas de sebo” junto à pilinha?

Esperar muito tempo pode conduzir a uma adesão maior, até porque se começam a formar secreções que, tipo “super-cola”, pioram a situação. Como se criam bolas de sebo (chamadas “esmegma”), os pais assustam-se porque veem uns altos brancos por debaixo da pele. A manterem-se e até aumentarem, podem causar dor ou até infetar.

É normal os bebés nascerem com a pilinha “apertada”?

Na esmagadora maioria dos recém-nascidos a pilinha está apertada. Chama-se “fimose fisiológica”. A verdade é que só em cerca de 4% (número ínfimo) dos recém-nascidos se consegue puxar totalmente (sem magoar, de forma natural) a pele para trás. Ao ano de idade ainda 50% das crianças têm um aperto.

Com que idade desaparece esse problema?

Com o decorrer do tempo a fimose começa a desaparecer e, na maioria dos casos, com alguma ajuda por parte dos pais, a pilinha abre-se e tudo fica como deve ser pelos 3-4 anos de idade.

Em que situações é recomendada a cirurgia na pilinha?

Por indicações médicas (salvo raras exceções, que são as crianças que fazem muitas infeções urinárias ou que não conseguem fazer adequadamente xixi), a intervenção cirúrgica só está indicada após os 3-4 anos de idade, depois de o deixar totalmente de usar fraldas. Excetuam-se, evidentemente, os casos em que a circuncisão é feita por motivos religiosos.

Na esmagadora maioria dos recém-nascidos a pilinha está apertada. Chama-se “fimose fisiológica”.

A partir de que idade é que devemos puxar a pele da pilinha?

A partir do ano de idade pode começar a puxar -se, muito cautelosamente, nunca ultrapassando o limite que os pais sentem que é o momento em que continuar a puxar “era de mais”. É uma sensação que se tem: primeiro há uma ligeira resistência que se vence, depois outra em que forçar seria traumatizante. Por vezes, mesmo sem forçando, pode ficar um bocadinho de sangue: limpa-se e aplica-se um creme com vitamina A ou zinco – não é problemático nem traumático.

E quando há aderências que não permitem puxar a pele para trás?

A manobra de desfazer as aderências é aparatosa. A criança debate-se, como é natural, não apenas porque está agarrada, mas porque sente que lhe estão a mexer num sítio sensível. Dói um pouco – faz mais impressão do que dói –, mas as crianças queixam-se a sério, esperneiam e choram. O desfazer das aderências faz sangrar, o que ainda impressiona mais os pais (e sobretudo as mães), acabando a “sessão” num ambiente algo desolador. 

Que cuidados os pais devem ter para a pele não voltar a aderir?

É indispensável, para que o resultado seja definitivo, que os pais, pelo menos no mês seguinte, continuem a manobra, puxando totalmente para trás e aplicando vaselina, para que as camadas de pele fiquem lubrificadas e não voltem a aderir.

É normal as crianças terem queixas nos dias seguintes?

Muitas vezes as crianças queixam-se que, depois da intervenção, dói a fazer xixi, não querem deixar mexer e os pais não conseguem fazê-lo, e a situação regressa ao mesmo. Custa, claro, ver um filho a sofrer e numa zona crítica. Todavia, se não for assim provavelmente ter-se-á de recorrer a uma intervenção cirúrgica, com tudo o que acarreta, designadamente a anestesia geral. No entanto, também é verdade que, passados esses dias mais próximos, as crianças ficam “inchadas” de passarem a ter uma pilinha igual à do pai ou dos irmãos ou primos mais velhos. Sentem -se uns “homens”, e isso deverá ser acentuado, especialmente quando estão a fazer xixi de pé. 

Quais os cuidados a ter na lavagem da pilinha? 

É bom ensiná-los que essa zona deve ser lavada, como qualquer outra, até porque o acumular de secreções é mais provável se não houver uma higiene adequada.

Sem desfazer totalmente a sensibilidade psicológica e mítica que a pilinha tem, não se deve entrar no tabu nem esquecer que é um órgão como qualquer outro, em termos de necessidades de higiene.

Deve lavar-se bem a zona do escroto, dado que é grande e enrugada, sobretudo nos mais novos, e convém retirar tudo o que ficou da contaminação com as fraldas, se ainda as usam.

É bom ensiná-los que essa zona deve ser lavada, como qualquer outra, até porque o acumular de secreções é mais provável se não houver uma higiene adequada.

Em que situações é feita uma circuncisão? 

Há vários argumentos para se fazer a circuncisão – médicos, culturais e religiosos (como no judaísmo, ao oitavo dia depois do nascimento, ou no islamismo, mais perto dos cinco anos). 

Um aspeto fundamental é que, se se fizer, deverá sê-lo num meio hospitalar, com todos os cuidados de assepsia, porque o maior risco são as infeções.

Depois dos 2-3 anos de idade, a circuncisão pode justificar-se, nos casos em que o aperto não evolui passados os 3-4 anos de idade, ou em que ocorrem infeções frequentes ou dificuldade em urinar.

Quando é que a cicatrização fica completa?

Mesmo quando se usam anestesias, são métodos muito rápidos e que não têm nada a ver com as anestesias das grandes operações cirúrgicas. Depois da circuncisão a ponta do pénis pode ficar amarelada, durante uns dias. O importante é combater a infeção e seguir as instruções que o médico que operou recomendar. Geralmente, após sete a dez dias a cicatrização é completa.

Que sinais de alerta é importante ter em conta?

Os problemas que podem surgir depois da circuncisão são vários, e se aparecerem deverão contactar o médico: dificuldade em urinar, hemorragia persistente, infeção no pénis que aumenta em três a cinco dias.

Depois dos 2-3 anos de idade, a circuncisão pode justificar-se, nos casos em que o aperto não evolui passados os 3-4 anos de idade, ou em que ocorrem infeções frequentes ou dificuldade em urinar.

O que é o estegma?

Geralmente aparece depois do primeiro ano de vida, São bolas de sebo, secreções e células mortas que se acumulam entre a pele e a glande. Os pais dão por elas ao verem umas “coisas” esbranquiçadas, às vezes do tamanho de uma ervilha ou de um bago de arroz grande, debaixo da pele, numa pilinha em que o prepúcio não vem completamente para trás… e apanham um grande susto; muitas vezes, aliás, como a pilinha é ainda uma zona para a qual os pais (principalmente as mães) olham pouco, ficam surpreendidos quando, na consulta, o médico lhes mostra essa acumulação de sebo. Estas bolas não incomodam o bebé, mas podem eventualmente infetar, pelo que é útil a ajuda de um cirurgião.

O que é a balanite?

Chama-se balanite à inflamação ou infeção da glande, que é a zona que está debaixo do prepúcio (pele da pilinha). Pode ocorrer em qualquer idade.

Qual é o aspeto de uma inflamação na pilinha?

O aspeto é de uma pilinha com a ponta inchada, vermelha, com corrimento que pode ter várias cores: branco, amarelado ou esverdeado, mas que é geralmente espesso. Por vezes há queixa de dor ao fazer xixi.

Em que consiste o tratamento da balanite?

O tratamento da balanite assenta na aplicação de uma pomada com antibiótico durante 4 ou 5 dias, e limpeza (depois de passar a fase de maior inchaço). Em casos de repetição, ou naqueles em que a criança fica com dificuldade repetida a fazer xixi (fazendo «balão», por exemplo), poderá ser necessária a circuncisão.

O tamanho do pénis está relacionado com o desempenho sexual ou com a capacidade reprodutiva?

O tamanho do pénis não está relacionado com o desempenho sexual ou com a capacidade reprodutiva. É bom que isso fique bem claro na cabeça dos leitores e contribuam para que esse mito social se desfaça. 

Em cada mil rapazes, pode surgir uma situação designada por micropénis, ou seja, um pénis realmente pequeno em termos absolutos – em Portugal nascerão cerca de oitenta bebés por ano com esta situação. As causas podem ser muitas, passando até pela mais completa normalidade. Mais raramente, o micropénis pode estar associado a uma doença genética ou a deficiências endócrinas que afetam a testosterona (situações muito raras e com outros sintomas).