Dar uma palmada numa mão ou numa fralda pode não ser considerado bater, se for a única maneira de estabelecer um limite. Para uma criança compreender que dois comportamentos são diferentes, há que mostrar que estão separados, ou seja, que há um momento de corte. Todavia, não se bate na pessoa, avisa-se «aquela mão» que deveria estar um pouco menos surda».
Nunca se deve, pois, magoar uma criança, ou bater de modo a fazer doer. A palmada pode ser uma maneira de marcar o momento, mas apenas isso. Bater, seja com o que for, é errado e pode ser considerado um maltrato. Do mesmo modo, humilhar, denegrir, achincalhar, são maneiras erradas de educar. Se os pais amam a criança não podem agredi-la, seja por palavras ou por atos. Se a amam, mesmo que tenham que vincar a sua autoridade, não podem fazê-lo de um modo que se traduza por rejeição. O autoritarismo não ajuda a promover pessoas equilibradas e resilientes.
Assim, tal como é bom a criança mostrar arrependimento sincero quando faz alguma asneira, também é conveniente que, sempre que os pais concluem que a castigaram injusta ou desproporcionadamente, assumam a culpa e o digam à criança, pedindo-lhe expressas desculpas. Ter consciência de que se errou e não se pedir desculpa, só porque o injustiçado tem metade do nosso tamanho, revela arrogância e é uma indecência.
Uma educação saudável e positiva, que infunda respeito por si e pelos outros, deve veicular alento e ânimo para que uma criança opte pelo comportamento desejado, sendo indispensável a colaboração e o apoio dela, e proceder de forma gradual, com pequenos objetivos, oferecendo modelos coerentes e consistentes, e ensinando e desenvolvendo as capacidades e habilidades.
Os gritos e insultos, como humilhar e achincalhar, têm efeitos perversos, designadamente:
- Os efeitos duram pouco.
- Exige castigos cada vez maiores.
- As relações entre pais e filhos ficam num estado lamentável.
- Oferece à criança uma imagem depreciativa, acusadora e negativa, até se convencer que é mau ou defeituoso, mas sem dar a esperança de que se pode aperfeiçoar e corrigir os eventuais erros.
- Esta imagem negativa e acusadora apresenta-se constantemente, de forma obsessiva e persistente, e a criança sente-se desgraçada, depreciável, mau, malvado, com uma autoimagem negativa, mas capitalizando a situação (gerando um álibi).
- Fomenta stresse constante e ansiedade.
- Desce a autoestima e o sentimento de competência.
- A criança sente-se inútil, incapaz de correr riscos ou tomar decisões de maneira serena e confiante, e desenvolve um sentimento de inferioridade e desconfiança em si próprio.
- Torna-se difícil estar em paz consigo próprio e ter calma e tranquilidade para ser reflexivo e se autoavaliar.
- A criança acumula ódio e agressividade contra si próprio, contra os outros e contra as coisas e situações.
Educar não é fácil. Parafraseando Eric Clapton, «believe, I know!». Mas se somos pais, temos de manter a calma. Educar e dar mimo não são incompatíveis. Apontar caminhos e amar complementam-se. Gritos e insultos são os argumentos dos fracos, dos que não têm argumentos, dos que veem na relação com os filhos uma relação de superioridade, cobardia, arrogância e… desamor.