Mário Cordeiro
Pediatra

Mãe, sempre ela…

Mai 12, 2021 | Mário Cordeiro, Opinião

As mães geraram-nos e cuidaram de nós, deram-nos mimo e afeto – e é para dentro da barriga delas que queremos regressar, sempre que nos sentimos tristes, desconfortáveis ou em risco, doentes ou com medo.

Recordo a minha, com saudade. Mesmo cá já não estando, está. Como aquela que dá um beijo, aconchega os cobertores e diz: “Dorme bem, querido!”, afugentando papões e lobos maus. As mães são mães. Sempre. É quem nos socorre quando algo não está bem. É, dizem, a última palavra que alguém pronuncia antes de morrer. Mas ser mãe não é o mesmo que ser “progenitora do sexo feminino”. E esse papel de “mãe” é muitas vezes desempenhado pelo pai, a par das mães, em cumplicidade com elas, mas também tantas vezes apesar delas, quando – como se vê crescentemente, estas alienam os pais e assumem-se como únicas procriadoras, ou quando, em atitudes narcísicas, atiram para cima dos pais o trabalho de “carregar o piano”, aparecendo depois apenas no momento de fama “a tocar o concerto”.

As mães geraram-nos e cuidaram de nós. Se estiver frio, deitamo-nos enroscados. Se alguém nos ameaçar, encolhemo-nos. Em situações de graves carências alimentares ou afetivas, voltamos à forma de girino, posição que poderá não passar de uma ilusão de segurança, mas tão forte que funciona na nossa mente, pelo menos o suficiente para nos esquecermos do resto, do que nos ameaça. Os mamíferos precisam de ver a mãe, como farol de securização, de calor, de mimo e, mal nascem, deveriam ser postos a mamar, abraçados pela mãe e pelo pai – tantas maternidades que recusam à tríade esta opção, sem qualquer razão científica que justifique.

Na sociedade portuguesa, até há bem pouco tempo, era esperado das mulheres que genericamente cuidassem dos filhos e da casa, e aos homens que saíssem para trabalhar e ganhar dinheiro. Era esperado que elas fossem gentis e submissas, enquanto a dureza e a ambição ficava para eles.

Apesar de não ter sido há muitos anos que se deu a viragem, esses tempos já parecem felizmente longínquos e espera-se que nunca mais regressem, embora a tarefa não esteja acabada. Se as mulheres não se devem fazer de vítimas (dos homens, geralmente) como algumas feministas difundem, também não devem assumir culpas que não são suas, nem deixar que os arquétipos mais devastadores da moral judaico-cristã – a autoflagelação psicológica – tome conta delas. São vencedoras. Felizmente. Mas com os homens, na mesma caminhada, e não contra os homens.

Na consulta dos dois meses, costumo dizer às mães que amamentam, que quando o bebé tiver dois meses e dois dias, terá que dar um presente à mãe, pela quinhentésima mamada. A sete por dia, é o que dá. E, em geral, os pais assumem o ónus, riem-se e dizem: “Prometido!”. As mães são realmente formidáveis. Geram, amamentam, cuidam, sossegam, cantam com as palavras e com a voz. E trabalham, vão às compras e sabem o que é o melhor para a família.

O papel da mãe no lar, lugar eminentemente regressivo e apaziguador, securizante e calmante, não deve ser subestimado, nem denegrido porque algumas mulheres o consideram sinónimo de “tachos e panelas” ou opressão machista. Para a criança, a mãe significa psicologicamente a regressão como o pai a ousadia e o polo de crescimento.

Por outro lado, as mães têm a simbologia da organização, calma e pensamento a prazo, ao contrário dos pais, mais ousados, exteriorizantes mas imediatistas e tantas vezes imaturos e inconsequentes. O triângulo funciona se os vértices forem equilibrados e a influência dos polos M e P eficiente e adequada – é por isso que um casal homossexual pode ser equilibrado porque pode desempenhar ambas as funções.