Estudo avalia o impacto dos aparelhos digitais no sono das crianças portuguesas. O conselho é minimizar o acesso aos ecrãs na hora de dormir.
Ana Margarida Marques

Ainda que os dispositivos eletrónicos sejam mais prevalentes nas casas de famílias portuguesas com maior estatuto socioeconómico, a disponibilidade de equipamentos digitais no quarto da criança é mais comum em famílias mais desfavorecidas, com impactos negativos no sono das crianças.

A conclusão é de um estudo publicado na revista científica Sleep Medicine e conduzido por uma equipa do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Segundo uma notícia da Universidade de Coimbra (UC), uma explicação pode ser “a possibilidade de as famílias de baixo estatuto socioeconómico terem menos conhecimento sobre os problemas de saúde associados ao uso excessivo de dispositivos com ecrã, menos tempo para supervisionar seus filhos ou menos oportunidades de envolvê-los em atividades extracurriculares.”

Tempo de ecrã mais elevado em crianças de famílias mais desfavorecidas

O intuito dos investigadores foi identificar a disponibilidade de diferentes dispositivos eletrónicos (televisão, computador, tablet) em casa e no quarto das crianças portuguesas, de acordo com a sua condição socioeconómica, de forma a analisar as associações entre tal disponibilidade e o tempo de ecrã e o sono das crianças nos dias de semana e fim de semana.

A investigação teve por base os dados de 8.430 crianças, com idades entre os três e dez anos, de escolas públicas e privadas das cidades do Porto, Coimbra e Lisboa.

As conclusões revelam que os dispositivos eletrónicos disponíveis em casa, especialmente no quarto, diminuíram significativamente o tempo de sono das crianças.

Independentemente da idade, sexo, ou do tipo de equipamento, o tempo despendido em frente ao ecrã “é sempre mais elevado em crianças de famílias de menor posição socioeconómica”, explica Daniela Rodrigues, autora principal do artigo científico.

Investigadores aconselham a reduzir ecrãs na hora de dormir

Segundo a especialista,”entre crianças dos três aos cinco anos de idade, ter uma televisão e um tablet no quarto foi associado a maior tempo ecrã. Entre crianças de seis a dez anos de idade, ter dispositivos no quarto (televisão, laptop e tablet) foi associado a maior tempo de ecrã e a menos horas de sono principalmente nos dias de aula”.

A investigação vem alertar para a necessidade de “desenvolver estratégias eficazes para minimizar o acesso ao dispositivo na hora de dormir. O tempo excessivo em frente ao ecrã e a menor duração do sono têm importantes implicações na saúde das crianças”. 

Mais, o uso generalizado de dispositivos móveis e a “popularização de dispositivos eletrónicos no quarto são provavelmente responsáveis pelo aumento substancial do tempo de ecrã na infância ao longo dos anos”, segundo Daniela Rodrigues.

Pandemia de covid-19 torna crianças mais dependentes de ecrãs

“Com a pandemia de covid-19 as crianças foram obrigadas a passar mais tempo em casa e ficaram mais dependentes de equipamentos eletrónicos (para uso educacional, social), pelo que é urgente aplicar estratégias de gestão do uso destes equipamentos na hora de deitar. Especial atenção deve ser dada a crianças socioeconomicamente mais desfavorecidas por estarem em maior risco, como encontrado neste trabalho”, avança a investigadora numa notícia da UC.

Os dados mostram que, apesar de a televisão ainda exercer efeitos consideráveis sobre o tempo de sono das crianças, os dispositivos móveis podem começar a ter um impacto maior no sono do que os dispositivos tradicionais.

O estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), pelo COMPETE 2020, Portugal 2020 e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).