
Isabel Stilwell
Jornalista
De que são feitas as boas avós?
As boas avós estão apaixonadas pelos netos. Podem disfarçar, mas a verdade é que quando eles entram numa sala não conseguem ver mais nada.
Há uns tempos, antes da Covid nos ter fechado em casa, eu e a minha filha Ana estivemos sentadas em fardos de palha numa festa da Barral, à sombra de umas árvores a conversar sobre aquilo de que são feitas as boas avós. As mães e avós da assistência foram fazendo perguntas, nalguns casos com os netos ao colo ou passarinhando por ali, perguntas de quem sabe mesmo que a realidade é, por vezes, bem diferente daquilo que vem nos livros. E, em conjunto, concluímos que as boas avós são, pelo menos, as quinze coisas que se seguem.
- As boas avós estão apaixonadas pelos netos. Podem disfarçar, mas a verdade é que quando eles entram numa sala não conseguem ver mais nada.
- As boas avós têm um bocadinho de ciúmes de não serem elas as mães, mas são capazes de afastar a inveja, rindo-se de si próprias. E acima de tudo resistindo a concorrer com as mães.
- As boas avós esforçam-se a sério por aceitar que muitas coisas mudaram para melhor desde o tempo em que foram mães. Por exemplo, estão felizes pelas cadeirinhas nos automóveis, mesmo quando ficam com as costas feitas num oito a sentar lá os netos e não se entretém a repassar e.mails idiotas que dizem como era bom andarem todos aos saltos na bagageira.
- As boas avós não aceitam todas as modas da educação sem pensar. E quando não concordam argumentam, resistindo à tentação de tornar o assunto pessoal.
- As boas avós, insistiu a Ana, se têm alguma crítica a fazer aos pais dos seus netos, fazem-na… aos seus filhos e filhas e não a noras e genros. Eles que decidam depois o que fazer com a informação que receberam.
- As boas avós não aparecem em casa dos netos sem avisar, como se a casa fosse sua. Mas têm sempre aberta a porta da sua.
- As boas avós não dizem “Aí comigo não fazem birras”. Nem com a desculpa de que é para consolar os pais, só para lhes garantir que aquelas crianças sabem ser muito bem comportadas quando querem.
- As boas avós são um bocadinho malucas, e é a felicidade com que descobrem essa sua faceta desconhecida que as torna irresistíveis para os netos.
- As boas avós têm histórias de quando os filhos eram pequeninos para contar aos netos (e desenhos e fotografias e caracóis do seu cabelo guardadas em caixinhas).
- As boas avós têm muita paciência para os netos, provavelmente mais do que tinham para os filhos, mas não têm paciência para tudo. E quando se cansam podem fazer um intervalo de ser avós, sem culpas.
- As boas avós têm vida própria. Profissão e carreira de que gostam. E falam dela com entusiasmo aos netos, mostrando-lhes que quando se adora o que se faz, o trabalho não é uma seca.
- As boas avós não contrapõem birras às birras dos filhos e dos netos. Pelo menos esforçam-se por isso.
- As boas avós zangam-se, mas não amuam, nem recusam um pedido de desculpa.
- As boas avós lutam pelos netos. Quando a insensatez dos pais os leva a disputar os filhos, não tomam o partido do “seu”, alimentando a guerra, preferindo apaziguar e construir pontes (mesmo que engulam sapos). E exigem que em sua casa a lealdade dos netos não se sinta posta em causa. Mas também se chegam à frente, buscando-os incansavelmente quando a irracionalidade leva a que os afastem deles.
- As boas avós são gratas e ensinam os netos a sê-lo também. E agradecem todos os dias por serem avós.