As rotinas de sono têm um papel chave no desenvolvimento infantil. Fique com estratégias e conselhos para ajudar a criança a dormir bem e alcançar bem-estar.
Texto: Ana Margarida Marques | Fotografia: Shutterstock

As rotinas relacionadas com o sono durante a primeira infância são um tópico que suscita algumas dúvidas nos pais.

“As necessidades em relação ao sono de toda a família são muito importantes, mas o bebé deve ter a prioridade por ser ele o mais vulnerável”, defende Mónica Pina, consultora de lactação e Médica Especialista de Medicina Interna.

“Não interessa que conselhos lhes dão, quem fará seguramente a melhor opção, se ouvir o seu coração, é a mãe, juntamente com o pai.”

A resposta de como lidar com o sono tem a ver com a forma como os pais vão querer ajudar os filhos neste processo, o que significa que cada um deve encontrar uma solução possível para si.

“A decisão vai depender das expectativas e das necessidades dos pais e das crianças, já que umas são mais exigentes do que outras, umas precisam de mais contacto do que outras, e há pais que têm expectativas de afastar mais as crianças, enquanto, com outros, acontece o inverso”, acrescenta a médica Mónica Pina.

Programados para acordar

Durante o sono, o cérebro cresce, prepara‑se para a aprendizagem, a memorização e a atenção.

Os bebés acordam muitas vezes durante a noite, muitas das quais só para verificar se a mãe está por perto.

“Eles estão quase programados para acordar e ver se está tudo bem”, explica a médica Mónica Pina, lembrando que esta é uma fase transitória na vida das famílias.

É também normal os bebés acordarem mais durante a noite quando a mãe regressa ao trabalho.

É importante saber que a criança o faz por estar ansiosa, porque se habituou à ideia de a mãe estar presente durante quase todas as horas do dia.

“Até aos oito meses a criança não tem a perceção própria de que é um ser separado da mãe”, adiciona Mónica Pina.

É essencial confortar o bebé quando se está com ele e comunicar com ele. Muitos pais têm dificuldades (naturais) de nem sempre conseguirem confortar o bebé nas fases em que se encontra mais fragilizado, ao que a médica responde:

“Somos a representação do que é o mundo para eles. Eles acompanham-nos mais facilmente se conversarmos calmamente com eles. Se forçarmos as coisas, eles oferecem resistência. Se os bebés sentirem que realmente é algo que é importante para nós, cooperam.”

“Somos a representação do que é o mundo para eles. Eles acompanham-nos mais facilmente se conversarmos calmamente com eles. Se forçarmos as coisas, eles oferecem resistência. Se os bebés sentirem que realmente é algo que é importante para nós, cooperam.”

Mónica Pina

Organizar a hora do sono

Pais e crianças criam rotinas relacionadas com o sono, o que não quer dizer que sejam sempre iguais e que não vão evoluindo de acordo com as fases de desenvolvimento das crianças (por vezes, o jantar é em casa dos avós ou querem ficar até um pouco mais tarde na rua – fugir à rotina também é saudável).

O bom senso deve prevalecer na gestão das rotinas que são importantes para a vida da criança, mas que não precisam de ser cumpridas à risca, acredita Mónica Pina: “Devemos agir gentilmente e com respeito pelos sentimentos da criança, pois assim é possível criar diferentes hábitos nos filhos. Somos os faróis dos nossos filhos, os guias.”

Antecipar a hora de deitar para as nove e meia da noite poderá ser uma boa estratégia, porque os pais ganham mais tempo com os filhos e porque as crianças, embora acordem mais cedo, vão dormir melhor na maioria dos casos, sugere a médica. Os rituais do sono são uma forma de comunicar com a criança.

Segundo Mónica Pina, “a hora do sono pode ser um momento em que se leem histórias e se cria um ambiente que, a partir dos dois ou três anos, dá lugar a que os filhos nos contem coisas inesperadas, que não contariam se não fosse aquele momento.”

Devemos agir gentilmente e com respeito pelos sentimentos da criança, pois assim é possível criar diferentes hábitos nos filhos. Somos os faróis dos nossos filhos, os guias.

Mónica Pina

Dar um bom colo, seguro e tranquilizador

Como explica Teresa Abreu, os bebés só dormem bem se sentirem que dormir significa ter um bom colo, seguro e tranquilizador. “Só é possível estarmos bem sozinhos (na cama) se nos sentimos bem acompanhados, e este sentimento estabelece-se na infância, na confiança de uns pais que amam e que estão atentos e disponíveis às necessidades do bebé”, diz a psicóloga.

“Quando os pais estão muito ansiosos ou stressados é difícil transmitirem essa tranquilidade. Por vezes, o bebé é tido como muito difícil, e é importante que eles próprios identifiquem os seus limites e procurem apoio na sua rede social ou mesmo de profissionais.”

E conclui: “As dificuldades de sono no bebé, para além da fase em que ainda está aprender a regular-se, são um alerta para a intranquilidade da família. Um pequeno empurrão nesta fase percorre um longo caminho na vida.”

Em resumo

  • Os bebés só dormem bem se sentirem que dormir significa ter um bom colo, seguro e tranquilizador.
  • É normal os bebés acordarem durante a noite. É essencial confortar o bebé quando se está com ele e comunicar com ele.
  • As rotinas de sono são importantes para a vida da criança. As rotinas vão evoluindo de acordo com as fases de desenvolvimento das crianças.
  • Os rituais do sono são uma forma de comunicar com a criança (ler histórias, partilhar emoções).