O choro é comunicação. Um meio brilhante de ter a atenção da mãe e do pai. Um reflexo que o bebé traz ao nascer, explica o pediatra norte-americano Brazelton, que se refere a ele ainda como “um sistema de alarme e uma habilidade extraordinária”.
Infelizmente, este reflexo de que o pediatra nos fala às vezes ultrapassa o normal, em tempo e intensidade. “E transforma-se em grito persistente”, como ele próprio observa aos longo dos seus livros, dando conta de que em cerca de 80 crianças, 25% gritava e irritava-se durante três a quatro horas por dia. Os dados dizem respeito aos anos 1960, e desde essa altura até hoje o tema já mereceu muita reflexão e investigação. Fizeram-se avanços na matéria, criando respostas para abordar aquilo que vem sendo uma das inquietações mais prementes dos progenitores.
O “mau humor” dos mais pequenos passou a ter nome próprio. Hoje, fala-se em bebés irritáveis, que choram mas não têm dor, que não sofrem de qualquer problema orgânico, que fazem birra e, às vezes, têm problemas de sono. Uma das investigadoras que mais se debruçou sobre este comportamento foi a alemã Mechthild Papousek, que observou uma relação entre o stress pré-natal e o choro e a irritabilidade nos primeiros seis meses do bebé.
Consulta em Portugal
Em Portugal, os bebés irritáveis já têm uma consulta própria. A consulta dos bebés irritáveis acontece na Unidade de Primeira Infância (UPI) do Hospital D. Estefânia, no Bairro da Encarnação em Lisboa. A equipa responsável por este serviço é composta por pedopsiquiatras, enfermeiras e uma psicóloga, e tenta descobrir nas consultas que motivos se escondem no comportamento das crianças que ali chegam.
Não há investigação no sentido de esclarecer se os bebés irritáveis também são adultos irritáveis, mas um estudo levado a cabo na Alemanha mostra que uma percentagem de crianças que choram muito nos primeiros meses de vida continua a chorar muito aos três anos de idade. Logo, é importante intervir precocemente.
O caminho é observar, conhecer e aceitar as especificidades de cada bebé, encontrando uma forma tranquila e harmoniosa de lidar com ele. Tudo isso passa pela criação de rotinas, que podem transformar-se em espaço e momentos lúdicos e de partilha entre a família.