O envolvimento paterno e as alterações hormonais no homem durante a gravidez têm despertado o interesse de muitos investigadores. “Nas sociedades modernas ocidentais, os papéis de género têm estado em transição e, no que respeita à vivência do nascimento e da parentalidade, em particular o papel do pai tem vindo a ser redefinido”, avança Rita Gomez, investigadora do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA).
“O modelo tradicional era o de chefe de família, no qual o homem se ocupava principalmente do sustento da família e educação/disciplina dos filhos mais velhos, e não se envolvia na prestação de cuidados (alimentar, dar banho, pôr a dormir) dos filhos mais novos; hoje valoriza-se o envolvimento paterno em todas as esferas e idades, e já desde a gravidez.”
Envolvimento paterno durante a gravidez
Segundo Gomez, o papel do pai que é assumido nos dias de hoje tem a ver com muitos fatores, como a idade, o nível educacional ou as origens familiares. “O grau com que o homem se envolve durante a gravidez é influenciado por diversas variáveis, desde o facto de a gravidez ter sido desejada e planeada ou não, à experiência anterior com os serviços de saúde”, explica a investigadora. E continua: “Alguns homens escolhem vivenciar a gravidez como ‘observadores’, prestando ajuda instrumental
(levar às consultas, ir às compras), quando lhes é solicitado, enquanto outros desejam vivenciar a evolução da gravidez o mais possível desde o início. Em termos emocionais, a experiência paterna, tal como a materna, vai evoluindo.”
Sentimentos de euforia podem conviver com nervosismo e ansiedade, sobretudo à medida que o par- to se aproxima. A ansiedade é particularmente comum, e pode relacionar-se com preocupação pela saúde do feto e da mãe, as economias familiares, ou a insegurança relativamente ao seu desempenho nas tarefas parentais depois do nascimento.
A gravidez e a perspetiva da paternidade podem também despoletar sentimentos sobre as relações com a família de origem, ou seja, como foi a sua experiência como filho.
Em termos conjugais, o pai poderá ter também um sentimento de exclusão (já que não sente fisicamente a gravidez) e de distanciamento em relação à parceira, sobretudo no início. Regra geral, estes sentimentos são transitórios e a maioria dos homens sente-se feliz e próximo da companheira no fim da gravidez, refere Rita Gomez.
O pai também engravida
Um fenómeno curioso que tem sido motivo de investigação é a síndroma de couvade, que “descreve a ocorrência de sintomas somáticos nos homens durante a gravidez das companheiras (dores de cabeça, náuseas, vómitos, aumento ou diminuição de peso)”, explica a especialista. Alguns autores consideram a síndrome como o equivalente moderno dos rituais couvade, um conjunto de comportamentos que se observam em sociedades pré-industriais, como a simulação do parto ou restrições dietéticas por parte dos homens, com base em crenças mágico-religiosas. Segundo alguns autores, embora os sintomas da síndroma de couvade possam resultar da
identificação do homem com a grávida, não são necessariamente os mesmos, nem acontecem no mesmo momento, relata a investigadora.
Para Rita Gomez, uma explicação para a ocorrência destes sintomas no homem pode ser a “manifestação de ansiedade” gerada pelo facto de vir a ser pai. A vivência de sintomas somáticos por parte do homem também pode estar associada ao grau aumentado do envolvi- mento paterno já desde a gravidez, explica Rita Gomez.
A investigadora tem estudado de perto a chamada síndroma de couvade, sendo que identificou este fenómeno em 28% dos pais que participaram num estudo nacional: “estes homens reportaram maior vinculação emocional ao feto durante a gravidez e foram também considerados pelas suas mulheres como sendo homens mais participativos depois do nascimento.”