“O orçamento tem de ser visto como uma ferramenta que nos ajuda a poupar.” Quem o diz é João Maria Raposo, consultor financeiro. “É com o orçamento que decidimos, em liberdade, onde, quanto e como é que vamos gastar o dinheiro.” O especialista refere a importância da necessidade de planeamento das finanças, sobretudo quando há um aumento do agrega- do familiar. “Na altura do nascimento de um bebé, estamos mais suscetíveis aos impulsos de consumo e as marcas sabem comunicar muito bem necessidades que muitas vezes não são reais”, alerta o especialista, explicando que o orçamento é essencial para fazer face aos imprevistos da vida familiar.
Receitas fixas e variáveis
Segundo o especialista, o orçamento é o espelho que reflete as nossas opções em termos de ganhos e de custos. A sua base de construção são as receitas (ver caixa). “Sem olhar para as receitas não é possível equacionar despesas”, aconselha João Maria Raposo, continuando: “Seria como começar a casa pelo telhado”. In- dependentemente de as receitas serem fixas ou variáveis, todas devem ser contempladas, até mesmo as mais irrisórias. Por receitas entenda-se, por exemplo, vencimento base, juros de poupanças no banco, reembolso do IRS, abono de família ou horas extraordinárias.
Despesas essenciais
O segundo passo é registar as despesas essenciais do dia-a-dia, discriminando aquelas que terá com o bebé.
As despesas essenciais são aquelas que são “necessárias à vida”, defende João Maria Raposo. Na lista entram consumos como: pagamento da casa, água, luz, gás, transportes, saúde e medicamentos. Além disso, o planeamento deve incluir “despesas obrigatórias” ao conforto, bem-estar e saúde da criança.
Nos primeiros tempos, o bebé precisará de equipamentos (ovo, carrinho, berço), roupa, fraldas, alimentação, medicamentos, além da eventual necessidade de inscrição no berçário, na creche ou no jardim-de-infância. “Há necessidades de um só custo”, por exemplo, um carrinho para o bebé, mas também há “necessidades continuadas”, como é o caso das despesas de saúde.
Muitas vezes, existem determinados artigos que podem ser adquiridos em segunda mão ou reutilizados através de familiares, amigos, colegas e vizinhos, sugere o especialista: “A partilha é uma das melhores formas de reduzir custos, portanto um conselho é saber estimar aquilo que tem para dar aos outros, porque também poderá vir a receber bens que os outros souberam estimar”.
Despesas não essenciais
João Maria Raposo defende que os pais devem incluir as “despesas não essenciais” no orça- mento familiar. Neste grupo, devem ser considerados os gastos com obrigações contratuais, como é o caso das telecomunicações (internet, telefones) e dos contratos com seguradoras, que devem estar contabilizados no orçamento que as famílias pagam por cada um dos seguros subscritos.
Por seu turno, existe outro grupo de despesas que o consultor considera “supérfluas”, por exemplo ir ao cabeleireiro, ao cinema, comprar acessórios de roupa, gamas de brinquedos mais dispendiosas ou gadgets. “Não está erra- do assumir este tipo de despesas. É normal que as tenha e até é saudável. O que não podemos é desvalorizá-las”, explica o especialista.
Estratégias para poupar
Segundo o gestor, poupar é um hábito saudável, que contribui para o bem-estar e equilíbrio emocional individual e da família. Por essa razão, o especialista acredita que a poupança deve ser encarada como uma despesa essencial das famílias. “Tratar a poupança como um pagamento a mim próprio” é uma máxima que o consultor financeiro acredita que todos deve- riam seguir. E continua: “Antes de ter um bebé, é aconselhável ter uma poupança no valor equivalente a três meses das suas despesas essenciais”. Por exemplo, se o orçamento familiar inclui 500 euros de despesas essenciais, deverá amealhar 1500 euros antes de o bebé nascer. É uma “margem de conforto” para reservar o que é essencial para o bebé nos primeiros três meses de vida.
A poupança deve ser possível (ajuste o valor consoante as suas possibilidades de modo a ser viável); prática (torne-a numa rotina fácil, por exemplo, autorize uma ordem de transfe- rência automática no dia a seguir a receber o ordenado); e progressiva (encare a poupança como uma despesa de rotina, para que possa ter efeitos continuados).
DICAS ÚTEIS
“As pessoas devem ter uma postura de procurar a informação sobre ajudas que possam receber”, sugere João Maria Raposo.
As famílias devem informar-se sobre apoios e subsídios. “Há juntas de freguesia e câmaras municipais que dão incentivos à maternidade, sobretudo em realidades no interior do nosso país que querem promover políticas de natalidade.” Por outro lado, continua o gestor: “Neste e momento, há mais famílias abrangidas pelo abono de família do que no passado. Acredito o que mais vale ter um espírito positivo e não assumir à partida um tom derrotista, considerando, por exemplo, que o Estado é muito burocrático ou que se perde muito tempo a solicitar os apoios.”
Quando possível, os pais podem recorrer também ao suporte de familiares, nomeadamente os avós, como complemento ou alter- nativa aos recursos sociais (ama, berçário ou creche), sobretudo durante a primeira infância. “Outra mais-valia é recorrer à sociedade civil. Por exemplo, a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) promove trocas de bens, carrinhos e roupas”, explica o consultor.
De resto, é essencial estabelecer prioridades de consumo, não perdendo de vista a importância de “valorizar aquilo que somos e não o que temos”, acredita João Maria Raposo. Rentabilizar o tempo com os filhos de forma a serem pais “presentes” é uma vantagem na “atual era de consumo”, recomenda.
PLANEAR O ORÇAMENTO
- PASSO 1
Faça um levantamento de todas as receitas do agregado familiar.
Por exemplo: Vencimento base, juros de uma poupança no banco, reembolso do IRS, abono de família.
- PASSO 2
Crie uma lista das despesas essenciais do dia a dia e com o bebé.
Por exemplo: Pagamento da casa, água, luz, gás, transportes, saúde, medicamentos, equipamentos (ovo, carrinho, berço), roupa, fraldas, alimentação, medicamentos, ama, berçário ou creche.
- PASSO 3
Faça uma lista das despesas não essenciais.
Por exemplo: Seguros e contratos de telecomunicações (internet, telefones) e despesas supérfluas (estética, cinema, acessórios de beleza, brinquedos em excesso, gadgets).