Fique com conselhos práticos para planear as finanças de acordo com as novas necessidades da família.
Ana Margarida Marques

“O orçamento tem de ser visto como uma ferramenta que nos ajuda a poupar.” Quem o diz é João Maria Raposo, consultor financeiro. “É com o orçamento que decidimos, em liberdade, onde, quanto e como é que vamos gastar o dinheiro.” O especialista refere a importância da necessidade de planeamento das finanças, sobretudo quando há um aumento do agrega- do familiar. “Na altura do nascimento de um bebé, estamos mais suscetíveis aos impulsos de consumo e as marcas sabem comunicar muito bem necessidades que muitas vezes não são reais”, alerta o especialista, explicando que o orçamento é essencial para fazer face aos imprevistos da vida familiar.

Receitas fixas e variáveis

Segundo o especialista, o orçamento é o espelho que reflete as nossas opções em termos de ganhos e de custos. A sua base de construção são as receitas (ver caixa). “Sem olhar para as receitas não é possível equacionar despesas”, aconselha João Maria Raposo, continuando: “Seria como começar a casa pelo telhado”. In- dependentemente de as receitas serem fixas ou variáveis, todas devem ser contempladas, até mesmo as mais irrisórias. Por receitas entenda-se, por exemplo, vencimento base, juros de poupanças no banco, reembolso do IRS, abono de família ou horas extraordinárias.

Despesas essenciais

O segundo passo é registar as despesas essenciais do dia-a-dia, discriminando aquelas que terá com o bebé.

As despesas essenciais são aquelas que são “necessárias à vida”, defende João Maria Raposo. Na lista entram consumos como: pagamento da casa, água, luz, gás, transportes, saúde e medicamentos. Além disso, o planeamento deve incluir “despesas obrigatórias” ao conforto, bem-estar e saúde da criança.

Nos primeiros tempos, o bebé precisará de equipamentos (ovo, carrinho, berço), roupa, fraldas, alimentação, medicamentos, além da eventual necessidade de inscrição no berçário, na creche ou no jardim-de-infância. “Há necessidades de um só custo”, por exemplo, um carrinho para o bebé, mas também há “necessidades continuadas”, como é o caso das despesas de saúde.

Muitas vezes, existem determinados artigos que podem ser adquiridos em segunda mão ou reutilizados através de familiares, amigos, colegas e vizinhos, sugere o especialista: “A partilha é uma das melhores formas de reduzir custos, portanto um conselho é saber estimar aquilo que tem para dar aos outros, porque também poderá vir a receber bens que os outros souberam estimar”.

É com o orçamento que decidimos, em liberdade, onde, quanto e como é que vamos gastar o dinheiro
João Maria Raposo

Consultor Financeiro

Despesas não essenciais

João Maria Raposo defende que os pais devem incluir as “despesas não essenciais” no orça- mento familiar. Neste grupo, devem ser considerados os gastos com obrigações contratuais, como é o caso das telecomunicações (internet, telefones) e dos contratos com seguradoras, que devem estar contabilizados no orçamento que as famílias pagam por cada um dos seguros subscritos.

Por seu turno, existe outro grupo de despesas que o consultor considera “supérfluas”, por exemplo ir ao cabeleireiro, ao cinema, comprar acessórios de roupa, gamas de brinquedos mais dispendiosas ou gadgets. “Não está erra- do assumir este tipo de despesas. É normal que as tenha e até é saudável. O que não podemos é desvalorizá-las”, explica o especialista.

Estratégias para poupar

Segundo o gestor, poupar é um hábito saudável, que contribui para o bem-estar e equilíbrio emocional individual e da família. Por essa razão, o especialista acredita que a poupança deve ser encarada como uma despesa essencial das famílias. “Tratar a poupança como um pagamento a mim próprio” é uma máxima que o consultor financeiro acredita que todos deve- riam seguir. E continua: “Antes de ter um bebé, é aconselhável ter uma poupança no valor equivalente a três meses das suas despesas essenciais”. Por exemplo, se o orçamento familiar inclui 500 euros de despesas essenciais, deverá amealhar 1500 euros antes de o bebé nascer. É uma “margem de conforto” para reservar o que é essencial para o bebé nos primeiros três meses de vida.

A poupança deve ser possível (ajuste o valor consoante as suas possibilidades de modo a ser viável); prática (torne-a numa rotina fácil, por exemplo, autorize uma ordem de transfe- rência automática no dia a seguir a receber o ordenado); e progressiva (encare a poupança como uma despesa de rotina, para que possa ter efeitos continuados).

DICAS ÚTEIS

“As pessoas devem ter uma postura de procurar a informação sobre ajudas que possam receber”, sugere João Maria Raposo.

As famílias devem informar-se sobre apoios e subsídios. “Há juntas de freguesia e câmaras municipais que dão incentivos à maternidade, sobretudo em realidades no interior do nosso país que querem promover políticas de natalidade.” Por outro lado, continua o gestor: “Neste e momento, há mais famílias abrangidas pelo abono de família do que no passado. Acredito o que mais vale ter um espírito positivo e não assumir à partida um tom derrotista, considerando, por exemplo, que o Estado é muito burocrático ou que se perde muito tempo a solicitar os apoios.”

Quando possível, os pais podem recorrer também ao suporte de familiares, nomeadamente os avós, como complemento ou alter- nativa aos recursos sociais (ama, berçário ou creche), sobretudo durante a primeira infância. “Outra mais-valia é recorrer à sociedade civil. Por exemplo, a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) promove trocas de bens, carrinhos e roupas”, explica o consultor.

De resto, é essencial estabelecer prioridades de consumo, não perdendo de vista a importância de “valorizar aquilo que somos e não o que temos”, acredita João Maria Raposo. Rentabilizar o tempo com os filhos de forma a serem pais “presentes” é uma vantagem na “atual era de consumo”, recomenda.

PLANEAR O ORÇAMENTO

  • PASSO 1

Faça um levantamento de todas as receitas do agregado familiar.

Por exemplo: Vencimento base, juros de uma poupança no banco, reembolso do IRS, abono de família.

  • PASSO 2

Crie uma lista das despesas essenciais do dia a dia e com o bebé.

Por exemplo: Pagamento da casa, água, luz, gás, transportes, saúde, medicamentos, equipamentos (ovo, carrinho, berço), roupa, fraldas, alimentação, medicamentos, ama, berçário ou creche.

  • PASSO 3

Faça uma lista das despesas não essenciais.

Por exemplo: Seguros e contratos de telecomunicações (internet, telefones) e despesas supérfluas (estética, cinema, acessórios de beleza, brinquedos em excesso, gadgets).