O desafio da maternidade deve ser aceite com as suas dificuldades e as suas recompensas, aconselham os especialistas. As mudanças mais visíveis acontecem no corpo feminino durante a gravidez, o parto, a amamentação e o pós-parto.
“Somos todas diferentes na forma como entendemos e nos relacionamos com o nosso corpo”, refere Márcia Fontes, Enfermeira Especialista de Saúde Materna e Obstetrícia. “A maioria das mulheres encara as alterações da sua nova condição gravídica como uma bênção, chegando mesmo a verbalizar nunca se terem sentido tão poderosas e sexys, capazes de tudo”, refere a especialista. Sobretudo no segundo trimestre, muitas grávidas relatam sentir-se radiosas, com uma energia extra para quase tudo o que fazem no dia a dia, continua Márcia Fontes: “A estas mulheres, regra geral, não há muito a dizer, apenas para aproveitarem ao máximo a gravidez, conscientes dos limites.”
Aceitar a gravidez
Contudo, existem mulheres que não aceitam tão bem a forma como o seu corpo muda. A recomendação é que haja um acompanhamento pela equipa de saúde, o mais precoce possível, com metas objetivas.
Por exemplo, em relação ao peso, durante a gravidez e no pós-parto, “é importante perceberem qual o peso que é normal adquirir, o período de tempo em que vão mantê-lo, que ferramentas têm ao seu alcance para o recuperarem e a partir de quando podem utilizá-las”, explica Márcia Fontes, da opinião de que, quando há uma orientação desde a gravidez, “elas conseguem concluir o processo com a sua autoestima e a sua segurança beneficiadas para as questões do quotidiano”.
Somos todas diferentes na forma como entendemos e nos relacionamos com o nosso corpo.
Gerir as alterações físicas
A maternidade implica a vivência de diversas fases de transição corporal. “O aumento do volume abdominal e do peso é uma certeza, sendo que, mesmo após o parto, este volume se vai manter, pois todos os órgãos têm de se reajustar internamente ao espaço que até agora era ocupado pelo bebé, bem protegido pelo útero”, explica a Enfermeira Especialista Saúde Materna e Obstetrícia.
Mas o retorno à forma física anterior acontece de forma natural, assegura a especialista. “O peso vai ser recuperado após o parto, e aqui recordo que as mulheres não se comportam todas da mesma forma, mas todas podem contar com um excelente aliado para uma recuperação mais rápida – o aleitamento materno”.
As hormonas libertadas durante a amamentação ajudam o útero a contrair e a regressar ao seu tamanho normal. Enquanto amamentar, a alimentação deve ser saudável e adequada (não excessivamente calórica).
As hormonas libertadas durante a amamentação ajudam o útero a contrair e a regressar ao seu tamanho normal.
Corpo cuidador versus sexual
Por mais positiva que seja a experiência da maternidade e da paternidade, “a presença do bebé e de todas as rotinas que o mesmo exige” influenciam o espaço do casal e a sua sexualidade.
“Como podemos pedir a uma mulher disponibilidade, vontade, motivação para o ato sexual, quando ela não dorme o suficiente, não tem tempo para ela própria e ainda não se considera suficientemente atraente?”, refere Márcia Fontes, continuando: “A sua atenção está, na totalidade, voltada para as necessidades do bebé.”
Em termos emocionais, é pois importante que a mãe compreenda que é normal sentir um conflito interior entre o corpo cuidador (dar colo ao bebé, dormir com ele, amamentá-lo) e o corpo erótico e sexual (fonte de prazer, desejo).
“Na prática, considero que não é tanto a vivência sobre o parto, ou mesmo o tipo de parto (vaginal ou cesariana), ou ainda a presença ou não de cicatriz perineal (resultado de laceração ou episiotomia), que condiciona a intimidade conjugal após o nascimento do bebé”, refere Márcia Fontes.
Evidentemente que estes fatores ”interferem com a maior ou menor necessidade de tempo para o reinício das relações sexuais, mas a vivência da intimidade vai muito para além das questões físicas (tem a ver com alterações emocionais)”, avança.
Ultrapassar as dificuldades
É importante que a mãe cuide e valorize a sua imagem no pós-parto, independentemente de não ter (ainda) recuperado a sua forma física.
“A falta de tempo justifica muitas coisas e permite-nos descuidar a forma como inclusive nos vestimos, mesmo em casa”, refere Márcia Fontes, que encoraja todas as mães a ter uma atitude positiva perante as adversidades, que existem, mas que fazem parte da sua adaptação.
“Gradualmente, as dúvidas dissipam-se, a segurança retoma o seu espaço e a intimidade volta a fazer parte do dia a dia do casal.” Márcia Fontes acrescenta que “quando a relação conjugal já revela fragilidades antes da chegada de um bebé, as mesmas dificilmente não serão potenciadas”. Mas quando uma relação conjugal é funcional, a mesma pode até sofrer transformações, mas o mais certo é “sair fortalecida” após o nascimento do bebé.
Ser mãe, trabalhar e não sentir culpa, por não dar atenção no bebé, implica a consciência de que o equilíbrio das famílias não deve centrar-se numa única pessoa – a “supermulher” – mas na entreajuda, dar e receber apoio, amar e ser amado.
Regresso ao trabalho
Ser mãe, trabalhar e não sentir culpa, por não dar atenção no bebé, implica a consciência de que o equilíbrio das famílias não deve centrar-se numa única pessoa – a “supermulher” – mas na entreajuda, dar e receber apoio, amar e ser amado.
“É difícil, no contexto socioeconómico atual, conciliar o papel de mãe e o trabalho, sem sentir que não conseguimos estar a 100% no papel de mãe, como estivemos durante a licença de maternidade, nem a 100% no papel de mulher trabalhadora, como estivemos antes ou durante a gravidez”, frisa a especialista.
A sensação de não dar resposta aos novos contextos “é normal no início quando as mulheres estão muito emocionais, muito absorvidas pela maternidade, mas ultrapassável à medida que retomam o trabalho”, conclui.