Saiba qual a importância do rastreio da diabetes gestacional e quais os cuidados acrescidos necessários para proteger a saúde da mãe e do bebé.
Ana Margarida Marques

A diabetes gestacional define-se como uma intolerância aos hidratos de carbono detetada pela primeira vez na gravidez. Qualquer grávida pode desenvolver diabetes, razão pela qual a Direção-Geral da Saúde (DGS) recomenda o rastreio a todas as mulheres. Entre os fatores de risco mais comuns estão a obesidade, o excesso de peso, ter tido diabetes gestacional numa gravidez anterior ou ter familiares (pais e avós) com diabetes tipo 2. Lisa Vicente, Médica Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, explica que, apesar disso, a diabetes pode ser diagnosticada em mulheres que não aparentam ter a doença, “porque são magras, aumentaram pouco peso durante a gravidez e não têm história familiar de diabetes”.

Como explica a médica, a placenta produz uma hormona designada por lactogénio placentário humano. Pelas suas propriedades, esta hormona gera uma resistência do organismo à ação da insulina (insulinorresistência). O pâncreas tem de produzir mais insulina para conseguir baixar a quantidade de açúcar no sangue, transformando-o em energia. Contudo, nalguns casos torna-se incapaz de continuar a aumentar a sua produção de insulina em resposta às necessidades da gravidez, o que causa um aumento da glicemia, desencadeando a diabetes gestacional.

Importância do diagnóstico

O diagnóstico da diabetes gestacional dirige-se a todas as grávidas, e envolve duas fases distintas: a glicemia em jejum, na primeira consulta de vigilância pré-natal, e a Prova de Tolerância à Glicose Oral (PTGO), realizada entre as 24 e as 28 semanas. Esta prova, que decorre em segundo lugar, deve ser feita após um jejum de, pelo menos, oito horas, mas não superior a 14 horas. O exame deve ser precedido, nos três dias anteriores de uma atividade física regular e de uma dieta não restritiva, contendo uma quantidade de hidratos de carbono de pelo menos 150 g.

Durante a PTGO, a grávida deve manter-se em repouso, referem as recomendações da DGS.

O diagnóstico da diabetes gestacional ocorre quando um ou mais valores forem iguais ou superiores aos valores de referência.

Sempre que se verifica o diagnóstico da diabetes gestacional, são necessários cuidados acrescidos que serão transmitidos pela equipa de saúde.

A grávida precisa de garantir o controlo da glicemia, através da vigilância médica, do controlo de peso, de uma alimentação fracionada (comer várias vezes ao dia) e da prática de exercício. É necessário pesquisar a glicemia capilar (picar o dedo) para medir o açúcar no sangue, de acordo com as orientações do médico assistente. O controlo e vigilância da diabetes diminuem significativamente o risco de complicações na grávida, no feto e no recém-nascido.

A saúde no futuro

Por norma, a diabetes gestacional surge na gravidez e desaparece depois da gestação. “Contudo, 30 a 50% das mulheres com diabetes gestacional virão a desenvolver diabetes tipo 2 mais tarde na vida”, refere Lisa Vicente. Estudos têm apontado efeitos a longo prazo, de obesidade e de diabetes tipo 2, nas crianças e nos adultos jovens, filhos de mulheres com diabetes gestacional.