O pós-parto é um grande desafio da sexualidade do casal, mas o que está demonstrado é que os pares ultrapassam melhor as dificuldades sexuais quanto mais próxima for a sua relação prévia, refere Lisa Vicente, Médica Ginecologista Obstetra.
Quando a relação conjugal é funcional antes de o bebé nascer, é mais fácil a adaptação do casal ao novo contexto. Por outro lado, quando a relação é já frágil antes do nascimento, é natural que haja mais dificuldades no reajuste do casal às novas exigências do bebé.
De uma forma ou de outra, os especialistas garantem que a tendência é que o bebé venha fortalecer a relação dos dois.
Estratégias
- Verbalizar e partilhar o que sentem um pelo outro.
- Procurar soluções para estabelecer um equilíbrio entre a vida familiar e a vida de casal.
- Criar oportunidades para ocupar o tempo só os dois (jantar fora, passear, correr, andar de bicicleta ou ir ao cinema).
- Deixar a criança, por exemplo, com os avós ou os amigos.
- Informar o médico e esclarecer as dúvidas sobre a sexualidade.
Dificuldades na mulher e no homem
Depois da gravidez e do parto, nasce uma mãe, que precisa de viver um processo de adaptação, o qual pode incluir desconfortos físicos e alterações psicológicas. “O cansaço, os horários trocados, a cicatriz do parto, o peito com leite, a criança no quarto que está sempre a chorar ou pode ouvir, existe uma quantidade de factos que podem interferir no timing e na vontade de ter relações sexuais, que se não forem verbalizados podem ser entendidos, pelo outro, como um querer menos, um desejar menos, um gostar menos”, aconselha a médica Lisa Vicente.
A boa notícia é que estas dificuldades características do pós-parto são transitórias. “A vida volta à normalidade e, se nos empenharmos por mudar, não há o peso de ‘tu já não me abraças’ ou ‘já não gostas de mim’”, continua a também Chefe de Divisão de Saúde Sexual, Reprodutiva, Infantil e Juvenil da Direção-Geral de Saúde (DGS), alertando: “Se a mulher não expressa desejo e amor pelo parceiro, como é que ele sabe que ela gosta dele? Às vezes as mulheres não são muito desafiadas a pensar nesses termos.”
Não são só as mulheres que se sentem exaustas no pós-parto e que estão a adaptar-se ao bebé, adiciona a médica. Os homens também se sentem cansados e precisam de manifestar as suas fragilidades. E à semelhança delas, continua Lisa Vicente, também eles precisam de se sentir desejados e amados, não só do ponto de vista sexual, mas do ponto de vista dos afetos. Eles também necessitam de “abraços, ternura, de se sentirem próximos da companheira”, mesmo estando ela tão centrada no bebé, a amamentar, a dor colo, a embalá-lo.
Os homens também se sentem cansados e precisam de manifestar as suas fragilidades. Eles também necessitam de “abraços, ternura, de se sentirem próximos da companheira.
O que o casal faz a sós
A seguir ao nascimento, é importante que a mãe e o pai se organizem e partilhem as tarefas com o bebé. Quando os sonos são divididos pelos dois, ambos partilham o cansaço e compreendem melhor o que o outro sente, refere Lisa Vicente.
À medida que o bebé cresce, os pais aprendem a compreendê-lo melhor e a fazer face às suas exigências. Mais tarde – quando as rotinas com a criança estão mais estabelecidas – é fundamental que haja um equilíbrio entre a vida familiar e a vida de casal. “Não existe uma solução mágica. É importante que o casal crie oportunidades e identifique estratégias para encontrar um espaço que seja dos dois”, por exemplo, ir jantar fora, passear, correr, andar de bicicleta ou ir ao cinema. Todas estas tarefas do dia-a-dia fazem o viver do casal – que deve ter um espaço individual e conjugal.
Por outro lado, a criança ou as crianças (se tem mais filhos) podem – de vez em quando – ficar com os avós ou com um casal de amigos, por exemplo. “Muitos avós trabalham ou vivem longe, mas se, por exemplo, os pais têm um grupo de amigos que têm filhos, porque não aliarem-se? Quem fica com um, fica com dois ou com três. E depois alternam entre si”, sugere.
Retomar da sexualidade
A seguir ao parto, é normal que haja receios e eventualmente queixas na hora de retomar a sexualidade. Um estudo canadiano avaliou as consequências urinárias e sexuais da cesariana e do parto vaginal.
Nas mulheres com o primeiro filho (nulíparas), referiam mais frequentemente queixas sexuais as que tinham tido um parto vaginal (70,1%) do que as que tinham tido uma cesariana (54,5%). Já a frequência de “dor com as relações” era semelhante entre os dois grupos (30,7% e 31,6%). Nas mulheres que já tinham tido mais de um parto (multíparas), as queixas sexuais eram semelhantes entre os dois grupos.
Lisa Vicente recorda que a consulta de revisão (entre a quarta e a sexta semana após o nascimento), realizada com o médico assistente, é uma oportunidade para os pais esclarecerem as suas dúvidas também relacionadas com a sua intimidade. É fundamental que o casal coloque as suas perguntas ao médico e que mantenha o diálogo aberto entre si.
Bibliografia consultada
Klein MC, Kaczorowski J, Firoz T, Hubinette M, Jorgensen S, Gauthier R. Department of Family Practice, University of British Columbia, Vancouver BC.J Obstet Gynaecol Can. 2005 Apr;27(4):332-9.