A seguir ao parto os pais ficam mais centrados no bebé. É também importante que ambos cuidem de si próprios e da sua relação conjugal. Conheça os conselhos e as estratégias para viver bem a sexualidade a seguir ao nascimento.
Ana Margarida Marques

O período após o parte é o grande desafio da sexualidade, mas o que está demonstrado é que os pares ultrapassam melhor as dificuldades sexuais quanto mais próxima for a sua relação prévia, refere Lisa Vicente, Médica Ginecologista Obstetra. Assim, quando a relação conjugal é funcional antes de o bebé nascer, é mais fácil a adaptação do casal ao novo contexto. Se, por outro lado, a relação é já frágil antes do nascimento, é natural que haja mais dificuldades no reajuste do casal às novas exigências do bebé. Mas a tendência é que o bebé venha fortalecer a relação dos dois.

As primeiras fragilidades

Depois da gravidez e do parto nasce uma mãe, que vive um processo de adaptação, o qual pode incluir desconfortos físicos e alterações psicológicas. «O cansaço, os horários trocados, a cicatriz do parto, o peito com leite, a criança no quarto que está sempre a chorar ou pode ouvir, existe uma quantidade de factos que podem interferir no timing e na vontade de ter relações sexuais, que se não forem verbalizados podem ser entendidos, pelo outro, como um querer menos, um desejar menos, um gostar menos», aconselha a médica Lisa Vicente.

Dificuldades transitórias

A boa notícia é que estas dificuldades características do pós-parto são transitórias. «A vida volta à normalidade e, se nos empenharmos por mudar, não há o peso de “tu já não me abraças” ou “já não gostas de mim”», continua a também Chefe de Divisão de Saúde Sexual, Reprodutiva, Infantil e Juvenil da Direção-Geral de Saúde (DGS), alertando: «Se a mulher não expressa desejo e amor pelo parceiro, como é que ele sabe que ela gosta dele? Às vezes as mulheres não são muito desafiadas a pensar nesses termos.»

É importante que o casal crie oportunidades e arranje estratégias para encontrar um espaço que seja dos dois.

Lisa Vicente

Médica ginecologista Obstetra

Os homens precisam de afeto

Não são só as mulheres que se sentem exaustas no pós-parto e que estão a adaptar-se ao bebé. Os homens também se sentem cansados e precisam de manifestar as suas fragilidades. E à semelhança delas, continua Lisa Vicente, também eles precisam de se sentir desejados e amados, não só do ponto de vista sexual, mas do ponto de vista dos afetos. Eles também necessitam de «abraços, ternura, de se sentirem próximos da companheira», mesmo estando ela tão centrada no bebé, a amamentar, a dor colo, a embalá-lo.

O casal deve ter tempo para si

Seja como for, é importante a mãe e o pai partilharem as tarefas com o bebé. Por exemplo, quando os sonos são divididos pelos dois, ambos partilham o cansaço e compreendem melhor o que o outro sente. À medida que o bebé cresce, os pais aprendem a compreendê-lo melhor e a fazer face às suas exigências. Quando as rotinas com o bebé estão mais estabelecidas, é funda- mental que haja um equilíbrio entre a vida familiar e a vida de casal. «Não existe uma solução mágica. É importante que o casal crie oportunidades e arranje estratégias para encontrar um espaço que seja dos dois», por exemplo, ir jantar fora, passear, correr, andar de bicicleta ou ir ao cinema.

Estratégias para os pais

A criança ou as crianças podem de vez em quando ficar com os avós ou com um casal de amigos. «Muitos avós trabalham ou vivem longe, mas se, por exemplo, os pais têm um grupo de amigos que têm filhos, porque não aliarem-se? Quem fica com um, fica com dois ou com três. E depois alternam entre si.»

Via de parto e relações sexuais

É normal que haja receios e por vezes queixas no retomar da sexualidade a seguir ao parto. Um estudo canadiano avaliou as consequências urinárias e sexuais da cesariana e do parto vaginal. Nas mulheres com o primeiro filho (nulíparas), referiam mais frequentemente queixas sexuais as que tinham tido um parto vaginal (70,1%) do que as que tinham tido uma cesariana (54,5%). Já a frequência de “dor com as relações” era semelhante entre os dois grupos (30,7% e 31,6%). Nas mulheres que já tinham tido mais de um parto (multíparas), as queixas sexuais eram semelhantes entre os dois grupos.

Peça a orientação do seu médico

A consulta de revisão pós-parto é uma oportunidade para os pais esclarecerem as suas dúvidas relacionadas com a sua intimidade, sugere a médica. Para uma sexualidade saudável no pós-parto é muito importante que os pais coloquem todas as suas perguntas ao médico.