Conheça a opinião do pediatra Mário Cordeiro sobre o impacto do fecho das escolas nas crianças, na sequência das novas medidas de contenção da pandemia de covid-19.

O governo anunciou o encerramento de todos os estabelecimentos de ensino nos próximos 15 dias, a partir de hoje, dia 22 de janeiro.

A interrupção letiva será compensada no calendário escolar num outro período de férias, a definir pelo Ministro da Educação, segundo o Primeiro-ministro António Costa.

O reforço de medidas está relacionado com novos dados sobre a variante britânica do novo coronavírus, tendo-se verificado um crescimento muito acentuado da mesma.

Contactado pela revista “O Nosso Filho”, o médico pediatra Mário Cordeiro considera “sensata” a decisão do governo, dado os contornos atuais da pandemia.

No entanto lembra os riscos do ensino à distância e reforça que “nada substitui as aulas presenciais, em qualquer nível de ensino”.

As escolas fecharam 15 dias, sem ensino à distância. Considera isso um problema para as crianças?

Se este tempo for considerado de férias e as aulas retomadas dentro de 15 dias, com compensação nas outras férias e Carnaval, prolongando o ano letivo para não terminar tão cedo como habitualmente, creio ser uma boa solução que não prejudicará as crianças.

Se o ensino, depois desta quinzena, for retomado à distância, teremos fortes implicações nos grupos já de si mais desfavorecidos, com crianças sozinhas, com crianças com irmãos na mesma sala, com pais em teletrabalho e sem tempo ou paciência, além de nada substituir as aulas presenciais, em qualquer nível de ensino. 

Creio ser um problema grave e, mesmo fornecendo os computadores a tantos que não o têm, não chega. Mais: para muitas crianças, a escola é a única âncora de estabilidade, em famílias com vidas caóticas e fragmentadas. 

Para muitas crianças, a escola é a única âncora de estabilidade, em famílias com vidas caóticas e fragmentadas. 

Mário Cordeiro

Pediatra

Sendo o segundo ano consecutivo, vão criar-se condições para que, a longo prazo, os privilegiados sejam cada vez mais privilegiados (em termos de futuros empregos, trabalhos, escolhas, riqueza) e os mais pobres cada vez mais pobres, incultos, não-educados e desprezados. Só isto deveria colocar todos os responsáveis alerta e em uníssono, e não aquilo a que estamos a assistir, de passa-culpas e campanha partidária permanente.

Os pais devem ficar preocupados?

Têm toda a razão para ficarem preocupados, embora não fosse possível outra solução. Ainda não está provado que as escolas sejam fontes de disseminação do vírus: quando vai uma turma para casa, então estariam todos infetados, o que não é verdade. Numa turma de 30 está um ou dois, e até, na maioria dos casos, não está nenhum, apenas o pai ou a mãe de um deles é positivo. 

Claro que tudo isto pode mudar com a emergência da estirpe inglesa ou brasileira, mas a situação é essa. Claro que haver aulas implica deslocações, mais gente na rua, encontros no final das aulas (sobretudo para os do 3º ciclo e secundário), mas não foi por aí que chegámos a estes números; aliás, a grande subida seguiu-se a 15 dias de férias de Natal. 

Aceitemos esta decisão porque parece, nesta fase, a mais sensata, mas tenhamos a certeza de que uma coisa são os nossos filhos, acarinhados, mimados, com tudo aquilo de que necessitam e pais cuidadores e com tempo e calma (e conhecimentos), outra coisa os muitos (a maioria?) a quem faltam apoios familiares, pais com sabedoria e pedagogia, com tempo e disponibilidade e com condições de habitação e logísticas promotoras de um bom ensino/aprendizagem.

Ainda não está provado que as escolas sejam fontes de disseminação do vírus: quando vai uma turma para casa, então estariam todos infetados, o que não é verdade.

Mário Cordeiro

Pediatra