14.02.2022
Um estudo, desenvolvido no âmbito de um projeto europeu, recolheu dados sobre a preparação, qualidade e resiliência dos serviços de saúde materno-infantis durante a pandemia de covid-19, em países da Região Europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo Portugal.
Os primeiros resultados do projeto Improving MAternal Newborn CarE in the EURO Region – IMAGINE EURO, no qual o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) participa, estão publicados na revista The Lancet Regional Health – Europe.
Entre março de 2020 e 2021, a percentagem de mulheres portuguesas com partos eutócicos, submetidas a episiotomias, um procedimento não recomendado pela OMS, correspondeu ao dobro da percentagem dos países Europeus incluídos no estudo.
Além disso, a manobra de Kristeller (outra prática não recomendada) foi realizada em 49% das mulheres portuguesas que deram à luz por parto instrumentado.
O estudo demonstra também que mais de 40% das portuguesas experienciaram dificuldades em aceder às consultas de rotina pré-natais.
Segundo os resultados, mais de um terço consideram existir uma comunicação inadequada por parte dos profissionais de saúde sobre os possíveis riscos da covid-19 durante a gravidez.
Compreender o impacto da covid-19 na qualidade dos cuidados prestados
Em comunicado, o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) alerta que “a garantia da qualidade dos cuidados materno-infantis é fundamental numa perspetiva de saúde pública”.
“A redução da qualidade de cuidados prestados pelos serviços de saúde pode ter implicações para a saúde mental e física das mulheres e dos recém-nascidos”, refere o ISPUP.
Com a investigação, “pretendeu-se traçar um retrato europeu do nível de cuidados disponibilizados às mães durante este período”, explica Raquel Costa, investigadora do ISPUP, responsável pela coordenação do projeto IMAGINE EURO em Portugal, e coordenadora do laboratório Saúde Mental Perinatal e Pediátrica, do Laboratório associado para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional (ITR), coordenado pelo ISPUP.
“Este trabalho foi igualmente realizado para entender o grau de preparação que estes serviços têm para atender às necessidades específicas da COVID-19”, acrescenta.
Inquérito disponível para todas as mulheres que queiram participar
Os investigadores elaboraram um questionário, disponibilizado em formato online, em mais de 20 idiomas, e dirigido a mulheres que tiveram um parto, após março de 2020.
O questionário está ainda disponível para todas as mulheres que queiram colaborar no estudo.
A ideia é avaliar a perceção das mães relativamente à qualidade dos cuidados materno-infantis em quatro parâmetros:
- os cuidados prestados
- a experiência de cada mulher quanto aos cuidados recebidos
- a disponibilidade de recursos físicos e humanos nos serviços hospitalares
- a capacidade de reorganização dos serviços mediante a pandemia de covid-19
O inquérito foi elaborado com base numa lista de Normas, preparadas pela OMS, em 2016, para ajudar a melhorar a qualidade dos cuidados hospitalares prestados às mães e aos recém-nascidos.
Mais de 20 mil mulheres avaliadas: 1685 são portuguesas
Foram avaliadas as respostas de um total de 21 027 mulheres em vários países europeus, sendo 1 685 delas mulheres portuguesas, que representaram a quinta maior amostra do estudo.
Os questionários foram realizados dividindo as mulheres em dois grupos: as que experienciaram trabalho de parto (18 063) e as que não tiveram trabalho de parto (2 964).
“As mulheres que passam pelo trabalho de parto experienciam um conjunto de práticas que as que não passam não experienciam, portanto, o questionário teve de ser adaptado mediante estas diferenças”, clarifica Raquel Costa.
Os resultados foram, depois, comparados entre os diferentes países participantes no estudo.