As crianças com sete anos que comem mais devagar ou deixam comida no prato têm uma melhor saúde cardíaca e metabólica aos dez anos. A conclusão é de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Uma equipa de investigação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) demonstra que os comportamentos alimentares durante a infância influenciam, desde cedo, a saúde ao nível cardíaco e metabólico. A investigação está publicada na revista Nutrition, Metabolism & Cardiovascular Diseases.

Segundo o estudo, as crianças que aos sete anos comem mais devagar e apresentam maior resposta à saciedade, deixando, por exemplo, comida no prato quando estão satisfeitas, têm menor risco cardiometabólico aos dez. Já as que sentem maior prazer em comer e respondem mais aos alimentos, pedindo constantemente comida, apresentam um risco aumentado, anos mais tarde.

“Sabemos que a alimentação desempenha um papel crucial na prevenção de doenças cardiovasculares, que são o culminar de um processo gradual de aterosclerose – formação de placas de gordura nas artérias, que dificultam a passagem do sangue. Este processo começa no início da vida e só décadas mais tarde é que apresenta manifestações clínicas”, refere Sarah Warkentin, primeira autora da investigação, coordenada por Andreia Oliveira.

“Tendo em conta este contexto, quisemos verificar se, já na infância, era possível encontrar uma associação entre os comportamentos alimentares e o risco cardiometabólico”, refere a investigadora.

As conclusões tiveram por base os dados de três mil crianças que integram o estudo Geração XXI do ISPUP. O estudo segue, desde 2005, 8600 participantes que nasceram nas maternidades públicas da área metropolitana do Porto.

Foram avaliados os comportamentos alimentares das crianças, aos sete anos de idade, através de um questionário aplicado aos pais, e diferentes parâmetros cardiometabólicos dos participantes aos dez anos, tais como os triglicerídeos, o HDL-colesterol (colesterol bom), e a resistência à insulina, provenientes de amostras de sangue. Além destes parâmetros, ainda foram usadas a pressão arterial sistólica e o perímetro da cintura para a definição do grupo de crianças de maior risco cardiometabólico aos 10 anos.

Relação entre comportamentos alimentares e riscos cardiometabólicos dependem do peso

No entanto, frisa Sarah Warkentin: “a associação entre os comportamentos alimentares e o risco cardiometabólico três anos depois é altamente dependente do peso da criança, importante preditor da saúde cardiometabólica”.

Ainda de acordo com a investigadora Sarah Warkentin:

  • É importante identificar os diferentes comportamentos alimentares durante a infância.
  • Tais comportamentos são muito influenciados pelos pais e pelo ambiente em que a criança está inserida.
  • A compreensão da influência dos comportamentos alimentares na saúde cardiometabólica das crianças é fundamental para que se possa intervir precocemente e moldar melhor a saúde dos mais novos.
  • Muitas crianças apresentam, já em idades precoces, excesso de peso, o qual é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. 
  • Mesmo não apresentando doença cardiovascular na infância, as crianças com maior risco cardiometabólico têm uma maior probabilidade de desenvolver a doença na vida adulta.