Mário Cordeiro
Pediatra

“Porque todos os Deuses têm destino de mãe”

Abr 30, 2021 | Mário Cordeiro, Opinião

E se com três letrinhas apenas se escreve a palavra “pai”, também a palavra “avó”, “tio” ou outras, como “não” e “sim”, “mar” ou “lua”, com a mesma quantidade escreveremos uma palavra-chave: “mãe”.

As mães são mães. Sempre. É em quem nos ocorre pensar quando algo não está bem. É, dizem, a última palavra que alguém pronuncia antes de morrer.

As mães geraram-nos e cuidaram de nós, deram-nos mimo e afeto – e é para dentro da barriga delas que queremos regressar, sempre que nos sentimos tristes, desconfortáveis ou em risco, doentes ou com medo. Se estiver frio, deitamo-nos enroscados. Se alguém nos ameaçar, encolhemo-nos. Em situações de graves carências alimentares ou afetivas, voltamos à posição fetal, que poderá não passar de uma ilusão de segurança, mas que funciona na nossa mente, pelo menos o suficiente para nos esquecermos do que nos ameaça.

As mães são calor, são força, são segurança. Na sociedade portuguesa, durante muitos anos, era esperado de homens e mulheres o desempenho de papéis marcadamente diferentes. Às mulheres competia genericamente cuidar dos filhos e da casa, e aos homens sair para trabalhar e ganhar dinheiro. Era esperado, das mulheres, que fossem gentis e submissas, enquanto a dureza e a ambição ficava para os homens. Apesar de não ter sido há muitos anos que se deu a viragem, esses tempos já parecem felizmente longínquos e espera-se que nunca mais regressem. Mas também não podemos considerar a tarefa acabada.

A bem dizer, não é verdade que antes das sociedades urbanas e do pós-Guerra as mulheres só estivessem a olhar para os bebés. Além de trabalharem (em meio rural e depois nas fábricas, desde amanhar fazendas, apanhar frutos ou dar de comer à criação e ao gado), faziam a lida da casa, tinham vida social (a «intriga», com o seu papel fundamental, era garantida pelas mulheres), iam à venda todos os dias e dedicavam-se a artes e ofícios (bordar, pintar, etc).

A diferença é a escala e o modo com que se faz o mesmo, mas também não se imprimem livros como na era de Gutemberg, com a mais-valia de as mulheres se preocuparem com a segurança das crianças, com a sua saúde e com a prevenção. E com o acréscimo de lhes darem mimo, afeto, brincadeira e educação.

Se as mulheres não se devem fazer de vítimas (dos homens, geralmente) como algumas fundamentalistas difundem, também não devem assumir culpas que não são suas, nem deixar que os arquétipos mais devastadores da moral judaico-cristã – a autoflagelação psicológica – tome conta delas. São vencedoras. Felizmente, Mas com os homens, na mesma caminhada, e não contra os homens.

E neste Dia da Mãe, que fiquem as respetivas descansadas, quando acham que, a partir dos nove meses de idade, os filhos lhes “fogem por entre os dedos», ou que pelo facto de outras mulheres cuidarem dos filhos, o seu papel fica diminuído. Não. Mãe há só uma, mamãs há muitas.

As mães são realmente formidáveis. Geram, amamentam, cuidam, sossegam, cantam com as palavras, securizam. E trabalham, vão às compras, organizam a casa e sabem o que é o melhor para a família.

Como hoje falamos de mães, prestemos homenagens a elas. Recordo a minha, com saudade. Mesmo cá já não estando, está. Como aquela que dá um beijo, aconchega os cobertores e diz: «dorme bem, meu querido!». Não está, mas está. Sempre!

Pedro Abrunhosa – A.M.O.R.)