Saiba como decifrar o choro nos primeiros tempos de vida e fique com estratégias para acalmar a criança.
Texto: Ana Margarida Marques | Fotografias: Shutterstock

O choro é a linguagem universal dos bebés. É através dele que a criança exprime as suas necessidades. Existem diferentes tipos de choro no bebé segundo o pediatra Berry Brazelton que podem ser muito úteis para os pais como orientação nos primeiros tempos de vida.

Com o tempo os pais vão facilmente compreender o tipo de choro do bebé que vão cada vez conhecendo melhor e o próprio bebé vai fazendo as suas aprendizagens para comunicar com os seus pais. 

À medida que as semanas vão decorrendo, a criança irá ganhar maior maturidade e desenvolvimento do sistema nervoso central e as suas respostas serão mais previsíveis.

Tipos de choro

“Tenho fome”

Um recém-nascido com fome chora de forma persistente e não muito alto, com soluços contínuos, mas curtos. Um sinal de que o bebé tem fome é movimentar a cabeça de um lado para o outro e para a frente, com a boca entreaberta, à procura de biberão ou de peito.

“Sinto dores”

Quando o bebé sente dor, o lamento é curto, agudo e muito alto, seguido de um momento de apneia, sem respirar, e depois de outro grito. Se for o caso, é muito importante que os pais procurem compreender a origem do problema ou pedir a ajuda de um profissional de saúde que os conheça bem, a si e à criança. 

“Estou cansado”

A fadiga é outro motivo comum de choro, acontecendo normalmente depois de um dia longo para o bebé. É um choro ligeiro, quase um gemido, que vai aumentando de tom até se tornar um choro forte. A criança precisa de chorar antes de voltar a aquietar-se.

“Estou aborrecido”

Um bebé entediado também choraminga, dando soluços. Qualquer coisa poderá satisfazer a criança, desde que seja uma novidade para o momento da crise. Os pais podem dar um objeto que saibam que a vai surpreender.

“Sinto-me desconfortável”

O choro pode ser um sinal de desconforto, sendo mais fraco do que o gemido de dor, mas com momentos de intensidade. O colo pode confortar o bebé, que precisa de uma proximidade física e de atenção redobrada.

“Estou agitado”

É um tipo de choro frequentemente confundido com o choro de desconforto ou de cólica, segundo Brazelton. É um choro intermitente e muitas vezes ritmado, que acontece depois de um dia agitado, com muitas imagens, sons e atividades. Para acalmar o bebé, é importante pegar-lhe ao colo, embalá-lo e falar com ele.

À medida que as semanas vão decorrendo, a criança irá ganhar maior maturidade e desenvolvimento do sistema nervoso central e as suas respostas serão mais previsíveis.

Compreender as causas do choro

Um artigo sobre o choro da autoria da Sociedade Portuguesa de Neonatologia refere diversas causas físicas: fome, estar sujo ou molhado, roupa desconfortável, frio ou calor excessivo, sono, fadiga, excesso de estímulos e dificuldade em estabelecer auto-controlo.

O choro pode ter ainda causas emocionais tais como: falta da presença dos pais; insegurança; falta de atenção; pedido de consolo e de mimo.

Na maioria das vezes o choro acalma quando o bebé recebe o conforto dos pais. Contudo é essencial ter atenção aos sinais de doença, por exemplo: febre, prostração, irritabilidade, alteração da coloração da pele, vómitos ou diarreia, dificuldades respiratórias.

Citando a mesma fonte, o recém-nascido depende dos cuidados da sua mãe que está biologicamente programada para atender e responder ao choro do seu filho.

“Ao ouvir o bebé chorar ocorrem transformações neuro-hormonais que preparam (a mãe) física e psicologicamente, ajudando-a a suportar o stress e o cansaço, fortificando assim a relação de afeto entre a díade mãe-filho.”

Estratégias para acalmar o choro

Cuidar de um bebé pode ser uma tarefa exigente e extenuante. Os pais devem poder recorrer a ajudas de familiares e amigos, devem relaxar e dormir enquanto o bebé descansa, fazer turnos entre si, trocar ideias com outros pais e, sempre que seja necessário, solicitar a ajuda junto da equipa de saúde. 

Para acalmar o bebé, é importante criar e respeitar as rotinas para responder às suas necessidades físicas, pegar ao colo, aconchegar, acariciar, dar massagens, embalar, trautear ou cantar, falar calmamente com ele.

O recém-nascido depende dos cuidados da sua mãe que está biologicamente programada para atender e responder ao choro do seu filho.

O quarto deve ter pouca luz e um ambiente agradável. Pode ser benéfico experimentar acalmar o bebé com o som de barulhos monótonos e repetitivos, como um aspirador, o cair da chuva, porque o som no útero também era ruidoso e constante. 

É importante orientar o bebé para que aprenda a acalmar-se sozinho, ajudando-o, por exemplo, a levar a mão à boca, a agarrar um objeto de conforto (um boneco, uma fralda), a chucha caso utilize. Aos poucos, com o passar do tempo, a criança vai ganhando uma maior competência para aquietar-se e autoconsolar-se.

Durante o primeiro ano de idade, a criança tem períodos em que chorará mais, o que tem a ver com o desenvolvimento do seu próprio sistema nervoso, sendo o cérebro um órgão em grande transformação.

O perímetro encefálico vai crescendo progressivamente para poder permitir que o cérebro cresça. Nesta fase a criança adquirirá novas competências, começa a ficar progressivamente insatisfeita e a chorar mais, dependendo também do seu temperamento. Tal como este choro aparece, desaparece, pelo que o melhor a fazer será estar presente, apoiar, consolar a criança.

A importância de responder ao choro 

Finalmente, é importante encarar o choro como uma resposta fundamental para o desenvolvimento da criança.

À nascença, chorar promove a abertura dos pulmões e inicia o seu funcionamento, além de provocar a saída dos fluidos das vias respiratórias para tornar possível a entrada de oxigénio. É o primeiro sinal de reação do bebé ao processo de adaptação e de sobrevivência fora do útero da mãe.  

Diversos especialistas asseguram que responder ao choro do bebé, escutá-lo, orientá-lo, irá promover a sua autoestima, segurança e tranquilidade.

Também é certo que os pais são as pessoas mais capacitadas para cuidar do seu filho, podendo recorrer ao apoio do médico assistente ou pediatra para orientar e esclarecer as suas dúvidas. 

É importante encarar o choro como uma resposta fundamental para o desenvolvimento da criança.

Bibliografia consultada:

“A Criança e o Choro – o Método Brazelton”, Thomas Berry Brazelton.

“O choro do bebé”, Sociedade Portuguesa de Neonatologia