Estudo revela que praticar desportos coletivos poderá ajudar a reduzir problemas emocionais em meninos que possam ter menos capacidades motoras, competências sociais e de diálogo.
Ana Margarida Marques

Os rapazes são menos suscetíveis a desenvolver problemas emocionais ou de comportamento entre os três e os cinco anos quando frequentam um clube ou grupo desportivo.

A conclusão é de um estudo realizado com 11.200 crianças irlandesas, publicado na revista The Journal of Pediatrics.

Os dados foram recolhidos entre 2007 e 2008 como parte do projeto “Growing Up in Ireland”, uma investigação a longo prazo sobre a primeira infância.

Futebol, râguebi e basquetebol recomendados na primeira infância

Com apenas um ano, cerca de 15% das crianças tinham mostrado algum sinal de atraso no desenvolvimento, quer em capacidades motoras, competências sociais, comunicação ou resolução de problemas.

Mesmo tão pequenas, estas crianças já apresentavam mais dificuldades comportamentais do que os seus pares que se estavam a desenvolver a um ritmo normal.

No âmbito do estudo, os pais preencheram questionários em duas fases: quando os filhos completaram três anos e depois novamente aos cinco.

Os meninos participaram regularmente em desportos como futebol, râguebi, basquetebol.

Apenas os rapazes em risco ganharam benefício com a sua participação no desporto, mostram os resultados. O mesmo impacto não foi identificado no comportamento das raparigas.

“Quando olhamos para os dados, a participação no desporto estruturado foi associada a uma redução significativa na proporção de rapazes com atrasos no desenvolvimento que, de outra forma, poderiam ter desenvolvido aumentos nos problemas comportamentais antes de irem para a escola”, segundo Neville, professor de gestão desportiva no University College Dublin.

“Há provas de investigação que sugerem que as raparigas desenvolvem a autoregulação mais cedo, e a um ritmo mais rápido, do que os rapazes neste período da vida”, avança Neville.

Crianças pequenas devem praticar desportos coletivos

As crianças com menos de seis anos têm já as capacidades motoras e de desenvolvimento que correspondem aos requisitos dos desportos – como correr, pontapear e lançar.

Contudo, normalmente não têm a capacidade mental para compreender as regras e concentrar-se durante mais de alguns minutos, e cooperar e compreender a ética da competição. Daí que, por norma, os desportos estruturados não sejam recomendados para crianças com menos de cinco anos.

Porém, o estudo aponta que pode haver uma grande vantagem no “carácter estruturado, supervisionado, rotineiro, baseado em papéis, governado por regras e orientado para objetivos das atividades desportivas”.

O envolvimento semanal num desporto poderá proporcionar uma forma regular e fiável de as crianças em risco terem os seus comportamentos desafiantes modulados num ambiente social fora de casa, acrescenta Neville. 

“Enquanto praticam desporto (…) as crianças estão a ter oportunidades regulares de treinarem competências precursoras para o desenvolvimento da autoregulação”.

Pandemia de Covid-19 tem afetado desportos coletivos em muitos países

A pandemia da Covid-19 pode ter interferido com a prática de desportos coletivos nalguns países, mas as crianças irlandesas continuaram a praticar desporto.

“Mesmo na fase mais restritiva dos planos do governo, o desporto estruturado, sem contacto, para crianças em idade escolar continuou, ao ar livre e supervisionado em grupos de 15”, segundo Neville. 

Com tantas outras áreas da vida social encerradas, na Irlanda houve a continuidade de participar em atividades desportivas.

A amostra nacional na Irlanda revela que metade das crianças de cinco anos, rapazes e raparigas, participa em desportos coletivos, pelo menos semanalmente.